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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

INFANTA(RIA) DO TEMPO



O Tempo passa por nós com pés de asas e não há como acenar ou despedir-se. Ele marcha imponente e certo do seu destino - adiante!
Chefiando o exército, esbraveja o fiel comandante, Milésimo de Segundo: _ À frente companheiros! Marchem! Não parem!
 Entre a ala dos Segundos ouve-se rumores: _ Os Minutos são uns molengas!
Mas todos estão muito seguros de si. Os Minutos não se intimidam com  ademais, mas murmuram a capacidade alheia: _ Vamos Horas! Suas atrasadas! O chefe já vai muito longe! Essa só podia ser a infantaria feminina.
O Tempo é um excelente artifício para exercitar o preconceito!
 Altivas e decididas vão as Horas pé a pé. Dentre elas, elucida a Meia Noite: _ Não se preocupem meninas, os Dias não nos acompanharão!
E segue o exército do Tempo. Os Dias nada pronunciam! São sorrateiros e silenciosos. Vez ou outra se escuta qualquer sussurro: _ N-ã-o    a-l-a-r-m-e-m-o-s! As Semanas estão muito próximas!
Alguém do lado de cá tenta parar o exército. Mas são inúteis as tentativas! Não há relógio, calendário MAIA, asteca ou judaico que o impeçam de seguir.
Timidamente se aproximam as Semanas. À medida que chegam as alas, maior é o silêncio. E assim permanece entre os Meses.
 Até que alardeiam as trombetas e rufam os tambores! Chega o majestoso Ano, montado em seu cavalo branco. Luzes, púrpura e fogos para anunciar o cavaleiro. Retomam o silêncio!  Chegam os biênios, décadas, séculos, milênios, alinhados como em frente de batalha, Com suas espadas afiadas, armamentos, mantimentos. Nas costas, pesam as bolsas carregadas de misérias, epidemias e temíveis males. Algumas outras veem num balão de festa, esvoaçantes no céu colorido, trazendo alegria, fé e dignidade.
 Não temem o batalhão! Enfrentados por todos os tipos de livros, fórmulas e definições. Nas rodas científicas contam histórias sobre os ilustres guerreiros  e seus feitos... E lá se vai o Tempo! Exige-se um tanto de disciplina para vê-lo passar. (Não nos atrasemos muito!  Ou poderemos perder a última tropa, trajando o espetáculo do fim do mundo.)
_ ADIANTE! MARCHE! NÃO PARE! Ouve-se novamente a voz do comandante. Mal sabem todos eles que não escutam o capitão. Aliás, nenhum deles se escuta, andam dispersamente, porém são um só!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Amor infla-ação



Eu cheguei a acreditar que sim, mas não. Nada de conto de fadas, nada de humanos, nada de destinos... Nada de nada que um dia cheguei a esperar! O tempo passa, e eu, entregue. Dada às pulsações, aos medos, às dúvidas e à fé. Dada ao tempo perdido, e ao porvir... Inteiramente doada à busca pela felicidade. E quanto me compraz saber, que me abandonando, encontro-me, e é fora de mim que estou, pois dentro só há espaço para ser feliz! Assim devo estar no outro: de dentro pra fora!

Não violarei a tua vidraça, nem suplicarei um pouco mais de calma. É esperando que se aprende a esperar, e é suportando que se aprende a amar. Não me satisfaz o amor comércio, nem o amor acordo. Cativa-me muito mais o amor sem razão e sem preço! Amor não é negócio inflação. Quanto mais procura, menos oferta!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Liberdade altruísta


A minha liberdade termina
onde a do outro começa!
O amor esmaga a minha existência!
Vou me perdendo nos encontros,
rendendo-me à experiência.
O mundo é feito de mundo!
Coisa alguma o é. Tudo e nada são tudo!
Como faz falta a pétala à flor!
Que falta me faz o tempo que já fui
e o que não sou!
Como ousar ser?
Desintegro tal qual a noite
desintegra o entardecer,
integrando-o, entregando-o.
Quando choro, pingo!
Quando amo, grito!
Quando clamo, sinto!
Quando vivo, aconteço!
Quando calo, emano!
Quando falo, estou!
E vou! Doendo vou, parindo vou, nascendo vou...
Parto de uma longa gestação!
Prematura! Incubada pelo medo,
pela dúvida e pela fé.
E tal é a gênese do canto,
qual canto o meu mundo é
                                   [Lugar da canção!
E me encanto na infinitude, na beleza da incompreensão,
Na partilha, no usufruto, na identidade e na fusão...
No estar em tudo e não se saber nada;
No pertencer e não ter;
No ser hóspede e morada;
No executar e reconhecer:
A minha liberdade termina
Onde a do outro começa!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Acorde das classes



Pranto no prato,
Cálice no canto.
Olhos transbordam sentimento santo.
Mãos sobre a massa,
Estômago na ânsia.
Bocas balbuciam sons  em consonância.
O medo passa...
não vê,
O amor chega...
não crê
Razão desperta...
Por quê?
Tantos trampam aos trapos,
Poucos enchem a pança.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Introdução ao amor

O amor sufoca o grito
insano, sôfrego, saudoso de si
Que é amor senão morte?
Mordaça que enlaça
a modéstia do beijo,
Punhal piedoso
cravado no peito,
Transborda a taça
de veneno lento.
Amor pleno,
cúmplice do pranto,
e da palavra...
aprendiz.
Fiel em si mesmo
Casto e santo
Calor que aquece
o coração meretriz.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Cadê teu nome?

_ Cadê teu nome moço?
_ Tá na rua onde nasci.
_ Cadê tua rua moço?
_ Tá no bairro em que me criei.
_ Cadê teu bairro moço?
_ Subiu ladeira é logo ali.
_ Cadê a ladeira moço?
_ Desci de lá e me virei.
_ Cadê tuas costas moço?
_ Tá cá olhando o que não vi.
_ E os teus olhos moço, cadê?
_ Tá lendo o nome que te dei.
_ Cadê meu nome moço?
_ Tá no papel que escrevi.
_ Cadê o papel moço?
_ Tá cá no bolso onde guardei.
_ Guardou meu nome moço?
_ Guardei a folha e esqueci.
_ Esqueceu a folha moço?
_ Esqueci por que aqui parei.
_ Está parado moço?
_ Tô cá, agora vou partir.
_ Partir pra onde moço?
_ Buscar meu nome que não sei.
_ Ei! Moço! E o meu nome, cadê?

domingo, 5 de agosto de 2012

Hoje eu acordei pra ser feliz!


Hoje eu acordei pra ser feliz! Lavei as feridas, escovei meu sorriso e alimentei o amor próprio. Vesti meus sonhos, calcei a autoestima e me aventurei no voo.
Hoje acordei pra dizer adeus! Adeus às palavras malditas, à loucura opressora, ao medo, ao ontem. Perfumei-me com a fé e coloquei na mochila ousadia.
Hoje eu acordei pra ser eu mesma! E não deixar que falem que não sou o bastante, que estarei só, que sou incompatível. Coloquei o capacete da amizade e fui ao encontro de quem gosta de me ter por perto, de quem não me esconde o afeto.
Hoje eu acordei pra dizer sim! Deixar que o silêncio ecoe, que eu recomece com dignidade, dizer sim às oportunidades e caminhar! Peguei a estrada da vida e deixei o vento soprar, lançando fora toda dor.
Hoje eu não acordei pra chorar! Amanhã talvez, um dia quem sabe. Hoje não, hoje eu acordei pra ser feliz!

domingo, 22 de julho de 2012

Por uma questão de sentido!


Todo dia é dia de alguma coisa em um cantinho qualquer desse mundo. Nenhum dia há sequer no calendário que não carregue em si uma comemoração! Comemoram por ai as coisas que passam, perdendo de vista o dia que vem. Carpe diem! Sussurram os mais entorpecidos!
E já não importam o quão amargo é o mel que provam, o sabor é uma questão visual! E tanto menos quanta beleza é ofuscada pelo esplendor da aparência. Mas, beleza é uma questão tátil! Só reluz o palpável! Já não há mais silêncio. Para que calar? Ouvir é um hábito sinestésico! Passa a banda, e a canção é a mesma desde que a dança foi mecanizada. Matinê e alvorada, soam os instrumentos insólitos anunciando que o dia começou. Só começou... Nada termina nessa geração que já não sabe morrer!
Morrer é um ato heroico quando se passa pela vida, sem deixar a vida passar. Mas eis que não me atrevo a comparar a vida à fanfarra que é apenas sonora e envolvente. A vida é também a ausência das coisas. E quantos se fazem possuidores na ausência? Talvez esqueçam que o haver é um ato que se inicia no não havido!  “_ Cantemos, bebamos e dancemos!" Pois a morte é uma festa que prossegue, para aqueles que não aprenderam a perder, que já não sabem mais ousar a doação, pois para muitos, ganhar é uma questão matemática!
“ _ Viva os calendários! Viva as ritualizações! Viva a bestialização do ser! Ter é uma questão infinitamente maior!” É uma mera questão de sentidos!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Unhappy Birthday

    Não sei por que razão o dia de hoje sempre me choca. E há muitos anos ele se repete sob nova forma, mas com a mesma essência. Talvez porque eu teime em acreditar que esse seja o dia métrico do ano, onde entendo realmente que significado tenho para as pessoas. É dolorosa a resposta, não queira saber! 
    Acho muito pertinente uma frase da sábia Cora Coralina quando diz: "Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas." E no calor do silêncio à volta, opto por tocar a mim mesma. Acredito que pior do que a morte é a dor de ser esquecido em vida. Afinal, todos morrem um dia, o mesmo não posso dizer à segunda dor. 
    À medida que o tempo passa a amadurecência nos acarreta muitos retalhos na alma. Muitas datas como essa sendo repetidas me estampam de cicatrizes. Entoo, semanas antes, uma oração para conter minhas lágrimas. E clamo enlouquecidamente: Que elas não caiam Senhor! Mas são teimosas... Lavam sempre a alma, como se eu fosse uma imunda! Vou tentando incutir minha importância: _ Afinal estou aqui! Contesto aborrecidamente. Mas que se repitam quantas datas forem necessárias até que enfim as lágrimas se convertam em sorrisos, até que eu seja capaz de tocar outros corações além do meu... Eu aguardo!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ao Sr.


Amor,

Por que demoras tanto a chegar? Ou melhor, para que demoras tanto? Já desfiz as malas e arrumei tudo no armário, limpei e perfumei a casa, recolhi o lixo e arranquei as molduras que envelhecem a sala de estar. Mas, não estás à porta, e até onde as vistas alcançam não vejo sequer sinais da tua presença. Ando me informando por onde passo se deixaste algum rastro, uma pista, um bilhete qualquer. Para quem procuro? Estão todos alheios à tua existência!
Tenho medo! Medo de que não chegue a tempo para o jantar, medo que outras vezes venham a extorquir a mobília. E tenho principalmente medo do medo que sinto enquanto não estás aqui. Dizem-me por ai, que a paciência há de te trazeres até mim, mas como? Vejo-a sempre no mesmo lugar! Outro dia chegaram a me recomendar o tempo, mas eis que este é um senhor desenfreado, não é cortês nem britânico, não há relógio que o faça pontual e ainda não conseguimos nos esbarrar. Disseram-me que entre o tempo e a paciência há um romance etéreo, e que eles compreenderiam minha aflição.
Mas confesso-te, não me contentei, convoquei todos os anjos, e roguei uma busca por ti! Estão por ai a caminho, talvez já os tenha visto. Mas demoras tanto... Tanto que já não aguardo mais notícias! Escrevo-te na esperança de que leias e de que te apresses em vir! Pois o sorriso anda desbotado e já se tornou enfadonho olhar as cores que estampam as paredes. Sabes que aqui e somente aqui podemos viver juntos. Se acaso eu me mudar sua chegada perderá o brilho, e já não sei se vou querer dividir o espaço com alguém, não quando eu me decidir por um canto só meu!
Queres saber? Irei! Sairei do nosso lugar, nunca quis me acomodar em só canto, o “só” jamais me saciou. Irei, e quem sabe ponha eu logo o pé nessa estrada e nos encontremos por ai. Mas caso não nos vejamos, quando chegar em casa pegue a chave que escondi no canteiro de rosas e me espere nesse mesmo sofá, de onde escrevo, não tardo a voltar! Vou espalhar pela casa meu perfume, para que se recorde da saudade que guardei!
                                                                                                                             Beijos,           
                                                                                                          Coração.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Eco...ntro


Suprimi todas as palavras em um soluço. Pasmei frente à folha em branco, essa reunião de todas as cores, de todas as luzes e não ousei manchá-la de intempéries. O meu canto não é do mundo! Não denuncia a falta de pão, nem a falta de mesa, nem a falta de cantos, nem falta outra qualquer por que geme os desgraçados. Por uma questão de negoísmo puramente. De que vale o eco dos desesperados? Acaso alivia (re)sentir dor?
O refúgio dos miseráveis é a alma alheia, não sua própria voz. Clamam o encontro dos corpos, o espelho dos olhos, o aposento do espírito. Já não come quem tem fome, nem sacia-se quem tem sede, morrem à entrega, rastejando em busca da mão que alimenta, não da comida! E quanto me fere o silêncio dos injustiçados! Pois eis que me aniquilo, aqui estou! É essa ausência que me reinflama e afunda o dedo em minha face apática. Como se o nada fosse o congresso de todos Sem Nomes, a eleger um manual linguístico.
Mas não sou digna dos necessitados. Traí a folha em branco!  Ecoei nas entrelinhas...