Suprimi todas
as palavras em um soluço. Pasmei frente à folha em branco, essa reunião de todas
as cores, de todas as luzes e não ousei manchá-la de intempéries. O meu canto
não é do mundo! Não denuncia a falta de pão, nem a falta de mesa, nem a falta
de cantos, nem falta outra qualquer por que geme os desgraçados. Por uma
questão de negoísmo puramente. De que vale o eco dos desesperados? Acaso alivia
(re)sentir dor?
O refúgio dos miseráveis é a
alma alheia, não sua própria voz. Clamam o encontro dos corpos, o espelho dos
olhos, o aposento do espírito. Já não come quem tem fome, nem sacia-se quem tem
sede, morrem à entrega, rastejando em busca da mão que alimenta, não da comida!
E quanto me fere o silêncio dos injustiçados! Pois eis que me aniquilo, aqui
estou! É essa ausência que me reinflama e afunda o dedo em minha face apática. Como
se o nada fosse o congresso de todos Sem Nomes, a eleger um manual linguístico.
Mas não sou digna dos
necessitados. Traí a folha em branco! Ecoei nas entrelinhas...
Ótimo texto, Indira!
ResponderExcluirTraições não importam! Somos um conglomerado de contradições. A culpa tem se mostrado tão ineficiente. importante mesmo são os ouvidos dispostos aos ecos nas entrelinhas e a boca a calhar a ânsia de outra boca .
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