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quinta-feira, 24 de março de 2016

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Paralisada! Mas inquieta.
Não compreendia como a vida deslizava assim, covardemente, entre seus dedos.
As mãos sobre o teclado prestavam-se tão somente ao trabalho de enganar o tempo. O mesmo que a enganara.
Era mais um dia abafado de quinta-feira. Daqueles em que o calor pede os pés no chão e o corpo despido.
Enquanto catava o alfabeto com os dedos, o coração, agora ardendo em ansiedade e contentamento sem sentido, palpitava diante das velhas palavras arrancadas pelo ventilador da solidão. (É, no entanto, pretensão achar que ela estivesse só).
Falar... Que saudade que tinha desse exercício! Depois de aprender, a duras penas, a arte do não dito, estava por um instante se deliciando com a promíscua sensação de rasgar-se em denúncias.
Quando nada mais se tem a calar, é melhor que o verbo retome a ação!
O discurso era para ela o mais insano ato de devassidão.
Primeiro o traje social, em seguida as peças íntimas... Uma a uma sendo arrebatadas do seu corpo, deixando à mostra todas as elevações de seu caráter miúdo.
Ela então se pôs diante do espelho. E, horas a fio, analisou sua nudez. E procurou pela fôrma de onde saem a maioria dos corpos.
O seu não parecia ter sido obra de artesão meticuloso, que esconde em sua arquitetura proezas vistas apenas por neuróticos apreciadores.
Não que o entalhe tivesse algo de especial. Não era o que ela pensava! Era tão rudemente comum, que poucos apreciariam por um pouco mais de tempo aquela nudez escultural.
Agora, ela se sentia assim, esculpida “argilosa mente” sob o molde da saudade.
Mas de uma saudade que não sabia para onde queria voltar!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Já não são os mesmos olhos. Nem tampouco se sabe qual sua cor!
 Tatear as palavras já não apetece a alma, agora tecida em retalhos e lucidez.
Outrora as palavras eram luz, paixão, esperança, ou qualquer outra coisa assim, arrebatadora. 
O coração já não salta ao olhar! A estabilidade assusta, mas traz contornos de amadurecência.
Olham-se as palavras, olham-se sem se ver... 
Para onde pode ter ido tudo o que antes estivera ali, estampado? 
Onde, de repente se punha o gosto por desnudar as letras, ou, 
em quais consoantes se escondem o afeto e o amor incondicional por costurar diálogos?

Os olhos carregam novo discurso, novo tom! 
Os olhos carregados, aos poucos se fecham à face apática e infeliz
 de um falar frouxo e caduco de si. 
Os olhos são segredos de outros cantos, agora mudos, mas lisonjeiros.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

SOS

Papos desinteressados,
Palavras frouxas,
Medo oportuno.

Sintomas sólidos de uma noite fria!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

FUI SEQUESTRADA!



Hoje ouvi alguém dizer: 
_Acho melhor se calar, afinal sei muito sobre a sua vida.
Calar-me? Como? Eu queria mais era gritar! Meus olhos brilharam!
Ele realmente sabia muito sobre minha vida? Que notícia boa! Finalmente, eu era reconhecida?
Por um momento me senti uma estranha! E se tivesse realmente algo pra dizer a meu respeito do qual eu precisava temer, era melhor que chamasse a polícia! Que tipo de história eu ocultava de mim mesmo? Seria eu uma ameaça à humanidade? Ou seria então alguém capaz de envergonhar-me a mim própria? Eu quis saber! Eu quis mesmo que se rasgasse em “denúncias”. Que parte da minha vida deixei escapar a um “estranho” sem ter antes me contado? Quanta injustiça!
Por um instante vasculhei a memória pra ver se encontrava alguma aranha esquecida entre as teias.
Infeliz constatação! O indivíduo sabia muito mais da minha vida do que eu mesma. Não havia nada lá! Nada além das minhas imperfeições. Nada mais, além dos medos, dos sonhos, das cicatrizes... Não havia NADA ALÉM DA MINHA CONDIÇÃO HUMANA!
Acostumara-me a acreditar na mudança. A esperar para além das falhas. Acostumara a me aceitar, a me perdoar e a me reconstruir dia-a-dia, e já não me permitia a identidade do ontem. Essa identidade que me escapa entre os ponteiros do relógio.
 Mas agora estava ali, travando uma guerra comigo mesma, punindo-me por algo que simplesmente eu desconhecia.
Quanto me indignei em pensar que a vida ao qual ele se referia não tinha um lugar em mim. Ela estava completamente fora,  alheia ao meu olhar! Estava provavelmente permeada em outras vidas. E como eu desejei saber quem eu era naquele instante!
Mas o silêncio que deveria me cercear, calou justamente aquele que me ameaçara. Quanta presunção! Intimidar alguém de si mesmo! Essa é realmente uma estratégia algoz... Ele me feriu profundamente com aquele silêncio, poupando-me de quem sou. Quanta crueldade!  Colocou entre eu e mim um véu obscuro. Eu que lutara a tanto custo para reconciliar os meus eus, agora já não sabia quantos pronomes abrigava em minha identidade. Eu que ainda não tivera a ousadia de me dizer:
_ Eu sei muito sobre a sua vida!
Agora, havia encontrado alguém que dizia isso! E parecia se deliciar em saber! Definitivamente, não era justo! Ele que acabava de se constituir sequestrador, furtando um dos mais valiosos bens que despossuo: eu mesma!
Com que direito?

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Chamas em vão



_ Cadê o amor, por onde ficou?

_ Chegou, ficou, saiu, voltou...

_ AMOR, SUBLIME AMOR!
Por onde andas tão inconstante?

_ Ando morrendo sobre as estantes.

_ E por que foges tanto assim?

_ Por que não te amas e  esqueces de mim?

_ AMOR, ardente amor!
A pouco te vi nos olhos do rapaz...
Onda no cais, porto no sertão!
Não me permites descansar em paz...
Por que te vais?

_ Chamas em vão!

_ AMOR, ETERNO AMOR!
Deixa o tempo de lado...
Fica um pouco mais!
Rasgue o calendário preso no porão!

_ Apague o sol e acenda a luz!
Nada me seduz...
Ouça uma canção!

_ Amor? Amor amigo!
Sabes que se trata de um caso antigo!
Dá-me tua mão até o pôr da vida
Desse coração zela a ferida!

_ Essa é minha sina!
Busque outra saída!

_ Escute amor: Não me ouças mais!
Tome teu destino sem olhar pra trás!
Siga em frente e tranque o portão!

...

_ AMOR?! É você... ou não?


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

INFANTA(RIA) DO TEMPO



O Tempo passa por nós com pés de asas e não há como acenar ou despedir-se. Ele marcha imponente e certo do seu destino - adiante!
Chefiando o exército, esbraveja o fiel comandante, Milésimo de Segundo: _ À frente companheiros! Marchem! Não parem!
 Entre a ala dos Segundos ouve-se rumores: _ Os Minutos são uns molengas!
Mas todos estão muito seguros de si. Os Minutos não se intimidam com  ademais, mas murmuram a capacidade alheia: _ Vamos Horas! Suas atrasadas! O chefe já vai muito longe! Essa só podia ser a infantaria feminina.
O Tempo é um excelente artifício para exercitar o preconceito!
 Altivas e decididas vão as Horas pé a pé. Dentre elas, elucida a Meia Noite: _ Não se preocupem meninas, os Dias não nos acompanharão!
E segue o exército do Tempo. Os Dias nada pronunciam! São sorrateiros e silenciosos. Vez ou outra se escuta qualquer sussurro: _ N-ã-o    a-l-a-r-m-e-m-o-s! As Semanas estão muito próximas!
Alguém do lado de cá tenta parar o exército. Mas são inúteis as tentativas! Não há relógio, calendário MAIA, asteca ou judaico que o impeçam de seguir.
Timidamente se aproximam as Semanas. À medida que chegam as alas, maior é o silêncio. E assim permanece entre os Meses.
 Até que alardeiam as trombetas e rufam os tambores! Chega o majestoso Ano, montado em seu cavalo branco. Luzes, púrpura e fogos para anunciar o cavaleiro. Retomam o silêncio!  Chegam os biênios, décadas, séculos, milênios, alinhados como em frente de batalha, Com suas espadas afiadas, armamentos, mantimentos. Nas costas, pesam as bolsas carregadas de misérias, epidemias e temíveis males. Algumas outras veem num balão de festa, esvoaçantes no céu colorido, trazendo alegria, fé e dignidade.
 Não temem o batalhão! Enfrentados por todos os tipos de livros, fórmulas e definições. Nas rodas científicas contam histórias sobre os ilustres guerreiros  e seus feitos... E lá se vai o Tempo! Exige-se um tanto de disciplina para vê-lo passar. (Não nos atrasemos muito!  Ou poderemos perder a última tropa, trajando o espetáculo do fim do mundo.)
_ ADIANTE! MARCHE! NÃO PARE! Ouve-se novamente a voz do comandante. Mal sabem todos eles que não escutam o capitão. Aliás, nenhum deles se escuta, andam dispersamente, porém são um só!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Amor infla-ação



Eu cheguei a acreditar que sim, mas não. Nada de conto de fadas, nada de humanos, nada de destinos... Nada de nada que um dia cheguei a esperar! O tempo passa, e eu, entregue. Dada às pulsações, aos medos, às dúvidas e à fé. Dada ao tempo perdido, e ao porvir... Inteiramente doada à busca pela felicidade. E quanto me compraz saber, que me abandonando, encontro-me, e é fora de mim que estou, pois dentro só há espaço para ser feliz! Assim devo estar no outro: de dentro pra fora!

Não violarei a tua vidraça, nem suplicarei um pouco mais de calma. É esperando que se aprende a esperar, e é suportando que se aprende a amar. Não me satisfaz o amor comércio, nem o amor acordo. Cativa-me muito mais o amor sem razão e sem preço! Amor não é negócio inflação. Quanto mais procura, menos oferta!