"O olhar do outro me invade e sou parte em parte de quem primeiro doou-me parte de si."
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sexta-feira, 20 de junho de 2008
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre esles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Sons mudos
Da consonância [da vida
nasce o desejo de dispor
de um tempo, de palavras,
de bons olhos e compor
as dádivas do presente,
sintetizando os frutos do amanhã.
Árvore incerta, de colheita incerta,
em baseio prévio do hoje. Eis raízes!
Os olhos mudos, por vezes surdos,
vendo um porque, um destino,
ou não vendo.
Não importa tempo meu
onde me leves estarei aqui,
pensando no que me convém,
tecendo minha admiração.
Mas não revogo, és o tempo.
E tens teus deveres cumpridos,
e tens efeitos sob teu poder,
tens a certeza que não tenho.
Passas tu, no relógio, no ar,
nos meus cabelos, nos meus desejos.
Passas tu e renova envelhecendo.
Eis a incerteza da árvore!
Então que digo? Pois,
sendo eu vivente
a ti tenho submissão,
sendo nascida,
tenho em ti uma missão
já descoberta, porém não aplicada,
por suas trazidas impermeabilizações.(?)
Eis a incerteza da árvore!
Indira Emanuelle de J. Costa
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