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domingo, 20 de novembro de 2011

Velha vida nova


Ontem foi um novo dia!
Novo antes de ser!
Velho hoje o ontem é,
porque já deixou de acontecer
E todas as noites enterro
o defunto que vai nascer.
Enterro também a saudade,
velo a vida de quem vai morrer.
A vida é uma morte passageira
que todos hão de estar!
Quem vida tiver na morte,
eis que soube se entregar!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ao menino dos olhos


O moço a devolveu o sorriso! Ela estava acompanhada da solidão quando ele se aproximou. A moça fugia de si e temia encontrar os olhos do rapaz, mas ele a viu. Foi assentar-se em um cantinho sem luz para que a alma dela não transparecesse o fardo. Mas a luz dos olhos do moço a tirou da escuridão. Roubou-lhe a companhia. O moço não sabe que ela tinha medo do encontro. Os encontros já haviam usurpado irresponsavelmente uma boa parte de quem ela se prestava a ser. Uma saudação e tudo se rompeu, a solidão a deixou só com o menino dos seus olhos. Estiveram sem localização. Ela estava em tudo, dissolvia-se no universo enquanto sentia timidamente o desejo do moço a violentar. Estiveram outras vezes sós! Do primeiro beijo ao surto, do último sorriso à separação. Sempre estiveram juntos, apenas não sabiam.
Foi por causa do moço que ela reaprendeu a sorrir sem amargura! A cantar a dor, a chorar a flor, a sorrir o amor. A vida lhe fora devolvida nos toques, nas fusões, nos diálogos, nas canções, na poesia, no afago. A moça nunca quis ser entendida, ela já sabia como Lispector que entender é não entender. Ela apenas desejava ser sentida dia e noite. Queria ser entregue, entrega, queria deixar de ser e renascer nele. O moço não se jogou no tempo, não quis a espera, evitou as demoras, partiu eternizando. Deixou com a moça o sorriso contra a tortura da dor, o tormento da saudade e os dias tristonhos e vazios!
Ficou a marca indelével da unicidade de sua(s) vida(s). Tudo e nada se dissipam com o passar dos dias. Quando ela se oferece gratuitamente às lembranças, compreende do que mais gosta no moço: a certeza de que sua inconstância lhe permitirá mais dias com a solidão, sem noites! Dias de sol e de liberdade, dias de silêncio e sobriedade, dias sem fim em sua companhia, pois o moço se foi, mas se esqueceu de sair! Eles começaram colocando um ponto final para tornar tudo novo de novo!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Na varanda

Caro diário,

Agora, sinto-me bem! Sento-me na varanda para acolher o que a natureza me oferece de melhor. É entardecer e as flores belas e vigorosas me anunciam vida nova. Daqui da varanda tudo é intencional, a estrada como plano de fundo, uns poucos transeuntes, ora embreagados, ora maquinizados, são o ícone da indiferença ao que hoje me pus a contemplar. Daqui tudo é naturalmente intencional! Fico tão pouco tempo na varanda! E como estou aconchegada na calçada dura e esburacada, ocasinalmente ela se torna a minha poltrona e me proporciona o descanso de uma manhã de labuta, de uma tarde de tédio, de uma vida singularmente nostálgica. As luzes gradativamente assumem o cenário protagonizando ou coadjuvando o ocaso, timidamente revelam que há vida naquele lugar. No romper do dia o homem é quem escolhe sua própria luz. Em volta da cidade as montanhas contam um tempo em que se era possível não ter, e as casas são testemunhas do medo que se tem de viver. Trocam tudo por tão pouco que aparenta liberdade, mas acorrentam-se na forma escondida pela idade. Na varanda o tempo não passa, tudo se funde harmonicamente e prestigiam os bucólicos ouvintes com a orquestra da criação.
Há pouco duas crianças vieram me solicitar um livro para uma pesquisa e confesso que interromper meu diálogo com a  varanda, fez-me esquecer por instantes que tudo isso faz parte dos segredos das varandas. E envolvida em minha significação deixei que fossem sem que a tempo eu pudesse lhes apresentar o livro da vida. E tantos se vão sem que eu note, e uns outros sem me notarem. Somos as partes desconectadas de um todo a se harmonizar, obra artística configurada pelas diferenças. Diferentes e iguais, uma sincronia dicotômica! Daqui pareço estar só com a varanda mesmo quando tudo está aqui.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

MANIFESTO EM CAETITÉ





Caetité protesta!

Às 19:00 h deste domingo, a população caetiteense esteve mobilizada contra a entrada de material radioativo carregado por 9 comboios que se direcionavam para o território da Empresa Nuclear (INB) no município de Maniaçu. Uma barreira humana formada por cerca de três mil pessoas protestavam o valor da vida frente aos riscos que o material apresenta à população e trabalhadores da empresa. As cidades vizinhas de Lagoa Real e Periperi também se expressaram através de uma vigília na madrugada deste domingo para que os comboios não passassem por outras vias. O movimento  conta com o apoio da Pastoral do Meio Ambiente, sindicato dos mineradores e outras entidades que estão à favor da qualidade de vida do povo. Após o desastre no Japão já passou da hora de nós brasileiros questionarmos a necessidade de produção de uma energia tão nociva às nossas vidas. Qual tecnologia é capaz de deter a fúria da natureza? Nossos irmãos orientais que nos respondam com maior precisão. A ciência já disponibiliza de diversos outros meios de produção de energia, dentre elas a eólica, que para o clima brasileiro é uma das mais favoráveis.
Em declaração o prefeito e autoridades da cidade afirmaram que não sabiam do transporte do material. Perguntamos: Se o prefeito não sabia, como a população foi a primeira a saber? E onde se encontram o respeito para com os caetiteenses ao enviar um material de alto risco sem comunicar sequer às autoridades locais? Boatos indicam que a mesma carga foi rejeitada em outras cidades do país, como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro. E Caetité deve receber o "lixo" que os outros não são capazes de aceitar? Do que se trata o carregamento? E qual a finalidade da entrada desse produto, antes não realizado, para a empresa? Representantes da Indústria Nuclear Brasileira (INB) dizem se tratar de "yellow cake"(substância radioativa) e que veio para a cidade para ser empacotada e exportada, pois segundo os declarantes Caetité é a única cidade com  tecnologia para tal procedimento. Pela primeira vez fomos surpreendidos com o transporte de tais produtos. A tecnologia daqui foi implantada quando que nós caetiteenses não sabemos? E antes de existir tecnologia aqui, onde ocorriam os procedimentos de empacotamento do yellow cake? As pessoas já não suportam mais o medo, a submissão ao bem material. Queremos o nosso bem de maior valor que nenhum dinheiro é capaz de suprir. Rogamos dignidade, respeito e humanização! Dizemos não ao "lixo atômico" porque amamos as nossas vidas! A população caetiteense pede a valorização da vida!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

"Somos o que fazemos para mudar o que fomos!"

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fé na vida

Quero escrever qualquer coisa!
Quero falar, quero sentir,
da morte à vida,
do gozo à dor,
e na mistura redescobri o amor.
E não seria o amor tudo isso?
O querer, o faltar, o agir?
E mais tantas outras,
no calar o calor do sentir?
Sei que amo a vida
e não sei mais amar sem viver,
e não sei mais viver sem amar,
e se vivo infeliz não sei ser.
Por que a felicidade se abriga
no silêncio de amar e sofrer.
Pois essa dor, desatina no peito,
é a resposta de quem sabe ver.
E crer na vida como ela é,
e crer que melhor há de ser,
quando o mundo sorrir na medida
que se chora a dor de viver!
Tenha fé meu irmão! Tenha fé!
Somos mais do que sabemos.
Tenha fé minha irmã! Tenha fé!
Podemos mais do que queremos.



segunda-feira, 25 de abril de 2011

Em miúdos


Hoje é mais um dia daqueles, DAQUELES, para ser mais exata. A rotina, os carros, as pessoas e eu, partes (do verbo partir, do modo repartir, no tempo presente, das últimas pessoas do individual) de um todo, e todo de umas partes. O planeta gira! É o que me disseram! As horas passam, enquanto ainda estou aqui. Há alguns dias atrás tive uma tremenda decepção ao constatar que o amor é relativizado tal qual o homem. A "teoria de Einstein" nunca esteve tão em voga. O tanto faz, à qualquer momento, o tudo nada e o talvez quem sabe. Concordo que não sejamos donos das possibilidades, co-autores talvez, mas contribuimos de modo significativo para sua construção, portanto não coloquemos a culpa no tempo, somos tempo, o tempo está em nós. 
Hoje, não quis escrever muito, não quero! Quero tão somente expor minha chateação. As evidências de mundo e de homem me apavoram. Tenho fobia dessa coisificação e capitalização do ser! Como as pessoas são capazes de ferir sem medida, pelo prazer imediato de ser bem mais que o outro. E outro quem é o outro? Se não uma extensão de si mesmo? É a mim que faço quando faço ao outro ou deixo de fazer. Mas poucos talvez se importem consigo, vivem apenas o calor da hora e a negligência do depois da hora. E mais uma vez recaímos sobre o tempo, e o tempo sobre nós imortalizando os fatos e os efeitos. É a moeda da vida!
Eu quis escrever pouco, porque talvez não soubesse encontrar o mais. Tenho fugido do exagero, o muito é desperdício! Mas na verdade quero falar tudo, de tudo, contudo, poucas palavras emergem de mim. As significações pairam no olhar, intactas e indescritíveis. As palavras já não comportam a razão dos signos e pouco tenho a dizer se não o muito a calar.

Aos homens o meu mais audível silêncio. Ao mundo a minha ignorância. À mim os homens e o mundo!