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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Unhappy Birthday

    Não sei por que razão o dia de hoje sempre me choca. E há muitos anos ele se repete sob nova forma, mas com a mesma essência. Talvez porque eu teime em acreditar que esse seja o dia métrico do ano, onde entendo realmente que significado tenho para as pessoas. É dolorosa a resposta, não queira saber! 
    Acho muito pertinente uma frase da sábia Cora Coralina quando diz: "Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas." E no calor do silêncio à volta, opto por tocar a mim mesma. Acredito que pior do que a morte é a dor de ser esquecido em vida. Afinal, todos morrem um dia, o mesmo não posso dizer à segunda dor. 
    À medida que o tempo passa a amadurecência nos acarreta muitos retalhos na alma. Muitas datas como essa sendo repetidas me estampam de cicatrizes. Entoo, semanas antes, uma oração para conter minhas lágrimas. E clamo enlouquecidamente: Que elas não caiam Senhor! Mas são teimosas... Lavam sempre a alma, como se eu fosse uma imunda! Vou tentando incutir minha importância: _ Afinal estou aqui! Contesto aborrecidamente. Mas que se repitam quantas datas forem necessárias até que enfim as lágrimas se convertam em sorrisos, até que eu seja capaz de tocar outros corações além do meu... Eu aguardo!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ao Sr.


Amor,

Por que demoras tanto a chegar? Ou melhor, para que demoras tanto? Já desfiz as malas e arrumei tudo no armário, limpei e perfumei a casa, recolhi o lixo e arranquei as molduras que envelhecem a sala de estar. Mas, não estás à porta, e até onde as vistas alcançam não vejo sequer sinais da tua presença. Ando me informando por onde passo se deixaste algum rastro, uma pista, um bilhete qualquer. Para quem procuro? Estão todos alheios à tua existência!
Tenho medo! Medo de que não chegue a tempo para o jantar, medo que outras vezes venham a extorquir a mobília. E tenho principalmente medo do medo que sinto enquanto não estás aqui. Dizem-me por ai, que a paciência há de te trazeres até mim, mas como? Vejo-a sempre no mesmo lugar! Outro dia chegaram a me recomendar o tempo, mas eis que este é um senhor desenfreado, não é cortês nem britânico, não há relógio que o faça pontual e ainda não conseguimos nos esbarrar. Disseram-me que entre o tempo e a paciência há um romance etéreo, e que eles compreenderiam minha aflição.
Mas confesso-te, não me contentei, convoquei todos os anjos, e roguei uma busca por ti! Estão por ai a caminho, talvez já os tenha visto. Mas demoras tanto... Tanto que já não aguardo mais notícias! Escrevo-te na esperança de que leias e de que te apresses em vir! Pois o sorriso anda desbotado e já se tornou enfadonho olhar as cores que estampam as paredes. Sabes que aqui e somente aqui podemos viver juntos. Se acaso eu me mudar sua chegada perderá o brilho, e já não sei se vou querer dividir o espaço com alguém, não quando eu me decidir por um canto só meu!
Queres saber? Irei! Sairei do nosso lugar, nunca quis me acomodar em só canto, o “só” jamais me saciou. Irei, e quem sabe ponha eu logo o pé nessa estrada e nos encontremos por ai. Mas caso não nos vejamos, quando chegar em casa pegue a chave que escondi no canteiro de rosas e me espere nesse mesmo sofá, de onde escrevo, não tardo a voltar! Vou espalhar pela casa meu perfume, para que se recorde da saudade que guardei!
                                                                                                                             Beijos,           
                                                                                                          Coração.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Eco...ntro


Suprimi todas as palavras em um soluço. Pasmei frente à folha em branco, essa reunião de todas as cores, de todas as luzes e não ousei manchá-la de intempéries. O meu canto não é do mundo! Não denuncia a falta de pão, nem a falta de mesa, nem a falta de cantos, nem falta outra qualquer por que geme os desgraçados. Por uma questão de negoísmo puramente. De que vale o eco dos desesperados? Acaso alivia (re)sentir dor?
O refúgio dos miseráveis é a alma alheia, não sua própria voz. Clamam o encontro dos corpos, o espelho dos olhos, o aposento do espírito. Já não come quem tem fome, nem sacia-se quem tem sede, morrem à entrega, rastejando em busca da mão que alimenta, não da comida! E quanto me fere o silêncio dos injustiçados! Pois eis que me aniquilo, aqui estou! É essa ausência que me reinflama e afunda o dedo em minha face apática. Como se o nada fosse o congresso de todos Sem Nomes, a eleger um manual linguístico.
Mas não sou digna dos necessitados. Traí a folha em branco!  Ecoei nas entrelinhas...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

CÁRCERE DE ESPELHOS



Talvez seja uma das coisas mais torpes ditas por mim nesse espaço. Mas o que é uma mulher amordaçada pela estética dos sentimentos? Então, vou falar, desse jeito mesmo que me convém, para pessoas que talvez  não se encontrem aqui, para pessoas que talvez não queiram saber. Mas se você veio e já chegou onde está, é sinal de que é realmente desbravador das "entrelinhas". Mas tem todo o direito de negar a sedução se quiser, e parar por aqui mesmo, não precisa me ler contra a sua vontade. Está realmente obstinado a prosseguir? Bem, você me aturou até aqui, questionando as suas decisões. Então, vamos lá meu fiel leitor, queira entrar e assentar-se para ouvir essa mulher! 
Já há algum tempo, fui lançada em um cárcere de espelhos, e perturba-me a sobriedade das imagens refletidas. Ouço ecos de multidões, as mãos exalam perfumes, e das mil faces que se refratam, tem uma que me é especialmente familiar! Noto com sutileza, os traços nítidos se consolidarem...
Eu não disse que queria estar aqui, gosto das janelas que me libertam, mas fui sequestrada pelo olhar. Armadilha perfeita! Como não pude perceber? Já não tenho ideia das horas e exito em sair. Não quero que vejam minhas rugas, nem que culpem o tempo pelas marcas que trago no corpo. Fico aqui, esperando alguém me olhar e roubar o espaço dos espelhos. Uma alma intrépida, atrevida e pretensiosa de si. Mas e do lado de fora meu caro leitor? Trazes notícias? Não, não me fale agora, eu é quem preciso dizer, antes que você se vá e eu não consiga plenificar meus anseios.
Como eu ia dizendo, noto nitidamente os traços sutis se consolidarem... Foi isso o que eu disse? Não, não precisa rebuscar, já não importa. Importa que eu vejo, um rosto que conheço bem, um rosto cheio de bocas, cheio de rostos. Tudo bem, não é um rosto, foi apenas um equívoco aritmético. Mas que é a aritmética para explicar esse emaranhado de partes? Não estão todas elas aqui? Eu não as vejo? Pois bem, é uma imagem assustadora e por causa dela já não durmo há dias, pois receio que ela invada meus sonhos. Os rostos se contorcem violentamente tentando sobrepujar os demais, e às vezes sangram pela inconstância de alguns deles. E têm dias que eles se tocam, se acariciam timidamente, e quando os olhos estão de frente vejo uma só face. Mas sabe o que é mais assustador? É que neste momento por mais que eu negue, e me vire à procura de outros espelhos, não vejo mais nada. Fico cega, e pior, fico só! Então eu GRITO, ESBRAVEJO, E CLAMO por minha visão, mas me lembro daqueles rostos bizarros, do sangue, do medo...
Não!! Psiuuuu... Melhor não! É melhor falar baixinho para que ninguém me escute, o que pensariam de uma mulher com medo de espelhos? Se bem que não me decido pelo que seja pior: o medo ou a cegueira...
Você conhece algum destemido cavalheiro que possa me tirar daqui meu amigo e fiel leitor? Já ouvi histórias de princesas salvas de torres e de garras de monstros por mãos de nobre cavalheiro. Sabe o que é  amado leitor? Em tempos em que já não se falavam de castelos é que eu fui aprisionada aqui, e eu não sei como está ai fora. Não, não se apresse em partir, eu já não vou mais te amolar com as minhas histórias. Mas apenas me diga uma coisa, preciso me preparar para quando ele chegar. Coisas de viajante, você sabe! Nada pode faltar na mudança... Por favor me responda: Ai está muito frio? O que seria mais útil: casaco ou maquiagem?