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sexta-feira, 1 de junho de 2012

CÁRCERE DE ESPELHOS



Talvez seja uma das coisas mais torpes ditas por mim nesse espaço. Mas o que é uma mulher amordaçada pela estética dos sentimentos? Então, vou falar, desse jeito mesmo que me convém, para pessoas que talvez  não se encontrem aqui, para pessoas que talvez não queiram saber. Mas se você veio e já chegou onde está, é sinal de que é realmente desbravador das "entrelinhas". Mas tem todo o direito de negar a sedução se quiser, e parar por aqui mesmo, não precisa me ler contra a sua vontade. Está realmente obstinado a prosseguir? Bem, você me aturou até aqui, questionando as suas decisões. Então, vamos lá meu fiel leitor, queira entrar e assentar-se para ouvir essa mulher! 
Já há algum tempo, fui lançada em um cárcere de espelhos, e perturba-me a sobriedade das imagens refletidas. Ouço ecos de multidões, as mãos exalam perfumes, e das mil faces que se refratam, tem uma que me é especialmente familiar! Noto com sutileza, os traços nítidos se consolidarem...
Eu não disse que queria estar aqui, gosto das janelas que me libertam, mas fui sequestrada pelo olhar. Armadilha perfeita! Como não pude perceber? Já não tenho ideia das horas e exito em sair. Não quero que vejam minhas rugas, nem que culpem o tempo pelas marcas que trago no corpo. Fico aqui, esperando alguém me olhar e roubar o espaço dos espelhos. Uma alma intrépida, atrevida e pretensiosa de si. Mas e do lado de fora meu caro leitor? Trazes notícias? Não, não me fale agora, eu é quem preciso dizer, antes que você se vá e eu não consiga plenificar meus anseios.
Como eu ia dizendo, noto nitidamente os traços sutis se consolidarem... Foi isso o que eu disse? Não, não precisa rebuscar, já não importa. Importa que eu vejo, um rosto que conheço bem, um rosto cheio de bocas, cheio de rostos. Tudo bem, não é um rosto, foi apenas um equívoco aritmético. Mas que é a aritmética para explicar esse emaranhado de partes? Não estão todas elas aqui? Eu não as vejo? Pois bem, é uma imagem assustadora e por causa dela já não durmo há dias, pois receio que ela invada meus sonhos. Os rostos se contorcem violentamente tentando sobrepujar os demais, e às vezes sangram pela inconstância de alguns deles. E têm dias que eles se tocam, se acariciam timidamente, e quando os olhos estão de frente vejo uma só face. Mas sabe o que é mais assustador? É que neste momento por mais que eu negue, e me vire à procura de outros espelhos, não vejo mais nada. Fico cega, e pior, fico só! Então eu GRITO, ESBRAVEJO, E CLAMO por minha visão, mas me lembro daqueles rostos bizarros, do sangue, do medo...
Não!! Psiuuuu... Melhor não! É melhor falar baixinho para que ninguém me escute, o que pensariam de uma mulher com medo de espelhos? Se bem que não me decido pelo que seja pior: o medo ou a cegueira...
Você conhece algum destemido cavalheiro que possa me tirar daqui meu amigo e fiel leitor? Já ouvi histórias de princesas salvas de torres e de garras de monstros por mãos de nobre cavalheiro. Sabe o que é  amado leitor? Em tempos em que já não se falavam de castelos é que eu fui aprisionada aqui, e eu não sei como está ai fora. Não, não se apresse em partir, eu já não vou mais te amolar com as minhas histórias. Mas apenas me diga uma coisa, preciso me preparar para quando ele chegar. Coisas de viajante, você sabe! Nada pode faltar na mudança... Por favor me responda: Ai está muito frio? O que seria mais útil: casaco ou maquiagem?

Um comentário:

  1. Há um tempo de vencimento pra tudo nessa sociedade de obsolescência programada, cara escritora; os amores, as prisões,os espelhos que às vezes são embaçados, tudo vence. Assim pensamos estar cegos.
    Sem as lembranças que nos aprisionam, seríamos vazios, agentes e atores d'uma realidade igualmente vazia.

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