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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Ao Sr.


Amor,

Por que demoras tanto a chegar? Ou melhor, para que demoras tanto? Já desfiz as malas e arrumei tudo no armário, limpei e perfumei a casa, recolhi o lixo e arranquei as molduras que envelhecem a sala de estar. Mas, não estás à porta, e até onde as vistas alcançam não vejo sequer sinais da tua presença. Ando me informando por onde passo se deixaste algum rastro, uma pista, um bilhete qualquer. Para quem procuro? Estão todos alheios à tua existência!
Tenho medo! Medo de que não chegue a tempo para o jantar, medo que outras vezes venham a extorquir a mobília. E tenho principalmente medo do medo que sinto enquanto não estás aqui. Dizem-me por ai, que a paciência há de te trazeres até mim, mas como? Vejo-a sempre no mesmo lugar! Outro dia chegaram a me recomendar o tempo, mas eis que este é um senhor desenfreado, não é cortês nem britânico, não há relógio que o faça pontual e ainda não conseguimos nos esbarrar. Disseram-me que entre o tempo e a paciência há um romance etéreo, e que eles compreenderiam minha aflição.
Mas confesso-te, não me contentei, convoquei todos os anjos, e roguei uma busca por ti! Estão por ai a caminho, talvez já os tenha visto. Mas demoras tanto... Tanto que já não aguardo mais notícias! Escrevo-te na esperança de que leias e de que te apresses em vir! Pois o sorriso anda desbotado e já se tornou enfadonho olhar as cores que estampam as paredes. Sabes que aqui e somente aqui podemos viver juntos. Se acaso eu me mudar sua chegada perderá o brilho, e já não sei se vou querer dividir o espaço com alguém, não quando eu me decidir por um canto só meu!
Queres saber? Irei! Sairei do nosso lugar, nunca quis me acomodar em só canto, o “só” jamais me saciou. Irei, e quem sabe ponha eu logo o pé nessa estrada e nos encontremos por ai. Mas caso não nos vejamos, quando chegar em casa pegue a chave que escondi no canteiro de rosas e me espere nesse mesmo sofá, de onde escrevo, não tardo a voltar! Vou espalhar pela casa meu perfume, para que se recorde da saudade que guardei!
                                                                                                                             Beijos,           
                                                                                                          Coração.

2 comentários:

  1. Maneira bonita e apaixonada de exortar a saudade, o amor e a despedida. Lembre-se que nesse mundo tá tudo fora do lugar. O desafio é encontrar harmonia onde há caos.

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  2. Verdade! Os desafios existem tal qual os problemas, para serem vencidos, solucionados!

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