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quinta-feira, 24 de março de 2016

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Paralisada! Mas inquieta.
Não compreendia como a vida deslizava assim, covardemente, entre seus dedos.
As mãos sobre o teclado prestavam-se tão somente ao trabalho de enganar o tempo. O mesmo que a enganara.
Era mais um dia abafado de quinta-feira. Daqueles em que o calor pede os pés no chão e o corpo despido.
Enquanto catava o alfabeto com os dedos, o coração, agora ardendo em ansiedade e contentamento sem sentido, palpitava diante das velhas palavras arrancadas pelo ventilador da solidão. (É, no entanto, pretensão achar que ela estivesse só).
Falar... Que saudade que tinha desse exercício! Depois de aprender, a duras penas, a arte do não dito, estava por um instante se deliciando com a promíscua sensação de rasgar-se em denúncias.
Quando nada mais se tem a calar, é melhor que o verbo retome a ação!
O discurso era para ela o mais insano ato de devassidão.
Primeiro o traje social, em seguida as peças íntimas... Uma a uma sendo arrebatadas do seu corpo, deixando à mostra todas as elevações de seu caráter miúdo.
Ela então se pôs diante do espelho. E, horas a fio, analisou sua nudez. E procurou pela fôrma de onde saem a maioria dos corpos.
O seu não parecia ter sido obra de artesão meticuloso, que esconde em sua arquitetura proezas vistas apenas por neuróticos apreciadores.
Não que o entalhe tivesse algo de especial. Não era o que ela pensava! Era tão rudemente comum, que poucos apreciariam por um pouco mais de tempo aquela nudez escultural.
Agora, ela se sentia assim, esculpida “argilosa mente” sob o molde da saudade.
Mas de uma saudade que não sabia para onde queria voltar!

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