Paralisada!
Mas inquieta.
Não
compreendia como a vida deslizava assim, covardemente, entre seus dedos.
As
mãos sobre o teclado prestavam-se tão somente ao trabalho de enganar o tempo. O
mesmo que a enganara.
Era
mais um dia abafado de quinta-feira. Daqueles em que o calor pede os pés no
chão e o corpo despido.
Enquanto
catava o alfabeto com os dedos, o coração, agora ardendo em ansiedade e
contentamento sem sentido, palpitava diante das velhas palavras arrancadas pelo
ventilador da solidão. (É, no entanto, pretensão achar que ela estivesse só).
Falar...
Que saudade que tinha desse exercício! Depois de aprender, a duras penas, a
arte do não dito, estava por um instante se deliciando com a promíscua sensação
de rasgar-se em denúncias.
Quando
nada mais se tem a calar, é melhor que o verbo retome a ação!
O
discurso era para ela o mais insano ato de devassidão.
Primeiro
o traje social, em seguida as peças íntimas... Uma a uma sendo arrebatadas do
seu corpo, deixando à mostra todas as elevações de seu caráter miúdo.
Ela
então se pôs diante do espelho. E, horas a fio, analisou sua nudez. E procurou
pela fôrma de onde saem a maioria dos corpos.
O
seu não parecia ter sido obra de artesão meticuloso, que esconde em sua
arquitetura proezas vistas apenas por neuróticos apreciadores.
Não
que o entalhe tivesse algo de especial. Não era o que ela pensava! Era tão rudemente
comum, que poucos apreciariam por um pouco mais de tempo aquela nudez
escultural.
Agora,
ela se sentia assim, esculpida “argilosa mente” sob o molde da saudade.
Mas
de uma saudade que não sabia para onde queria voltar!
Voltou a escrever!
ResponderExcluir